a Dívida parte 02
4 0 0
X
Reading Options
Font Size
A- 15px A+
Width
Reset
X
Table of Contents
Loading... please wait.

Não sou o melhor em despedidas, ainda mais na terça feira que por sinal já foi o dia de Duinn o que chega a ser irônico.

Aran olhou para Hilda um tanto atônita.

_Melhor a senhora se sentar.

_Como você pode estar tão calmo?

É tudo o que posso fazer, mas na verdade estou com medo, muito medo, eu não quero te deixar.As lágrimas começaram a descer pelo rosto de Hilda e em um instante se tornaram uma cachoeira. Aran a abraçou com força e ela retribuiu com ainda mais força. Depois de um momento, Aran falou.

Está tudo bem, eu não vou morrer.

_ Você não sabe Aran, magos são perigosos, são piores que nobres.

_Eu sei...

Você tem que fugir, talvez possamos achar algum lugar para esconder você.

_ Não adianta tia, a senhora sabe.

Aran mostrou seu pulso.

_Já estou marcado, ele mesmo disse que fugir não é opção.

Hilda tocou no rosto de Aran gentilmente.

_ Meu garoto... Meu garotinho, por que tem que ser assim? Oizus não tem piedade de mim mesmo.

_...Oizus me tira todos que amo, que crimes cometi para me atormentar tanto.

_ Tia Hilda...

A voz de Aran já estava trêmula, seu coração parecia ter caído de um penhasco, seu peito se encheu de dor e um gosto amargo tomou conta de sua boca, ele abaixou a cabeça perdida.Eu sou mesmo uma boba, me lamentando enquanto você me consola, mas é você que precisa de apoio.

_ Ahh como eu queria que sua mãe estivesse aqui, ela confiou você a mim e olha só...Nunca mais diga isso tia Hilda, minha mãe estaria orgulhosa, a senhora cuidou muito bem de mim, nunca me deixou faltar nada. Você foi uma segunda mãe pra mim e eu não te trocaria por nada.

Depois de ouvir isso Hilda enxugou suas lágrimas e levantou .

_ Meu doce encrenqueiro, que confusão você arrumou dessa vez.Aran ficou confuso porque sua tia se levantou e foi até o quarto, depois de alguns minutos ela voltou com uma caixa de madeira.

_ Isso é?

As coisas da sua mãe, ou o que restou delas, talvez tenha algo útil para você.Hilda pois a caixa no chão, bem no lugar onde era a mesa, Aran se aproximou para ver o que tinha dentro da caixa, lá ele encontrou muitos itens de beleza, como escovas, espelhos, tiaras e outros acessórios. Também podiam ser encontrados, duas ou três notas nunca abertas que vagavam pela bagunça, um rolo de linha, um vidro de perfume e um anel que chamou sua atenção.

Aran pois suas mãos no rolo de linha e o ergueu, era de um azul escuro quase roxo, depois de ficar fascinado por ele durante alguns instantes ele o deixou de lado. Em seguida pegou o perfume com um vidro belo e delicado, o que combinava com a imagem que tinha de sua mãe, ele o abriu e um cheiro doce familiar assolou seus sentidos, Hilda sorriu vendo essa cena. O último item era o mais estranho, pois dava uma sensação familiar, era como se o chamasse.Aran pegou o anel entre os dedos e começou a olhar ele com cuidado, era cinza com um losango formado por 3 outros losangos, um dentro do outro. Hilda estendeu sua mão e Aran entregou-lhe o anel.

_ Tia a senhora sabe de onde veio esse anel?

_ Sabe, esse anel, disseram que ele um dia foi mágico.

_ Quem deu esse anel para minha mãe?

_ Ele foi ... Uma lembrança...

Depois de um longo momento de silêncio Aran perguntou.

_ Do meu pai?

Hilda riu.

_ Hahaha não, não, seu pai mal tinha onde cair morto aquele bastardo, ai ai esse anel era de um cliente, um nobre que queria ser mago. A história que ouvi da sua mãe foi que o anel um dia pertenceu a um mago morto, teriam saqueado seus restos em busca de riquezas e esse anel era um dos poucos itens no corpo, o cliente se gabava muito do preço que pagou, mas ele nunca teve a oportunidade de usá-lo, hahaha.

_ Mágico em ...

_ Bem, eu duvido que seja sua mãe que sempre tentou usar ele mas nunca funcionou, no final ele ficou apenas como lembrança.

Hilda devolveu o anel e Aran o guardou no bolso.

_ Bem, quem sabe.

Aran e Hilda continuaram conversando até o final da tarde, quando Aran saiu com uma pequena trouxa. Do lado de fora Gants o esperava com uma sacola na mão e uma estranha faca na outra.Eu não esperava te ver aqui, você ficou esperando a tarde toda?

_ Bem eu não, voltei faz pouco tempo.

Aran olhou para as coisas nas mãos do amigo com um olhar questionador.São seus, você recebeu alguns presentes de despedida.

_De quem?

A senhora Jasmim mandou alguns lanchinhos para a viagem, o Gimble deixou uma faca estranha, eu achei que ele fosse ficar para entregar pessoalmente mas ele saiu correndo, falou que tinha muito trabalho na forja.

_ As notícias da sua partida repentina já se espalharam, dona Joana mandou uma toalha," uma companheira para todo o viajante", o seu Manuel fez um quebra cabeças de madeira, ele disse que você é muito esperto e vai resolver ele rapidamente, mas que ainda servirá de lembrança.Bem e o último foi seu Ivo, ele mandou canela e gengibre.

_?

_ Não me pergunte.

Gants estendeu as mãos para o amigo, Aran pegou a sacola e enfiou dentro da sua trouxa, já a faca ele prendeu na cintura ,só para o caso.

_ Está quase cheio.

Aran tirou um pequeno saco debaixo da blusa, ele se aproximou da tia em passos largos e o tilintar das moedas se chocando pareceu mais alto do que nunca, pelo menos aos olhos de Hilda.

_É parte do dinheiro que sobrou depois de pagar a dívida, 120 moedas de prata, assim a senhora pode comprar uma mesa nova.

_ Uma mesa não é tão cara Aran .

Disse Hilda franzindo a testa, mas o sobrinho não a deu chance de retrucar mais, já abraçando e colocando o dinheiro em suas mãos.

_ Bem, a senhora pode fazer o que quiser com o dinheiro, afinal ele é seu.

Essas foram as últimas palavras deixadas por Aran antes de partir em sua viagem.

_ Adeus meu amor...

Hilda com o coração pesado ficou ali parada vendo o sair, sem saber se um dia voltaria..

Gants seguiu Aran a caminho da casa do senhor da cidade, durante o longo percurso ele pôs seus pensamentos em ordem.

A cada casa que passava Aran se sentia mais estranho, ele deixaria Rzeka mas não da forma que sonhou, ele nunca pensou que esse dia seria tão lamentável. Talvez ele nunca mais caminhasse por essas ruas, ou viria essas pessoas, essa podia ser sua última vez ali, isso tudo era tão irreal.O som de uma pedra sendo chutada era abafado pelo ruído das pessoas transitando pela rua.

_O que você vai fazer a partir de agora?

_ Não faço ideia.

_Bem, você não trabalha mais para o Dylan então pode seguir outro caminho agora.Verdade.  Vai ter uma vaga lá na forja agora que eu vou embora, você poderia assumir.Essas palavras fizeram Gants parar, a pedra que ele ia chutar rolou para o outro lado da rua. Ele levantou a cabeça e encarou o amigo.

_Por que você tem que falar isso justo agora?

_Eu não vou poder falar depois.

Aran encolheu os ombros.

_Você tem razão, eu vou ter que procurar alguma coisa para fazer agora que não vou ter mais meu melhor amigo para roubar meu tempo.

Aran tirou um saco de moedas debaixo da blusa e o entregou.

_ Você pode precisar de uma ajuda.

Gants não pegou o dinheiro ao invés disso o empurrou de volta.

_ Alem você vai precisar desse dinheiro mais do que eu. Eu não posso aceitar.

_ Você acha que eu estou te dando todo o meu dinheiro? Acha que sou louco? Isso é só uma parte, eu ainda tenho algum guardado, então aceito.

_ Além do mais isso é um investimento, preciso que cuide da tia Hilda enquanto eu não estiver, você é a pessoa que mais confio. Bom, no futuro você pode me devolver esse dinheiro.Eu vou cuidar da sua tia, eu prometo e vou devolver esse dinheiro com juros.

_ Obrigado, oh não fale de juros, eu não sou o Dylan, hehehe.

Os soldados dos Lewis patrulhavam a casa, enquanto andavam de um lado para o outro conferindo a segurança do terreno. O céu já tomado pela escuridão da noite os cobria e a única iluminação era a das lamparinas dispostas em postes ao longe.

_Ei Berto, hoje é noite de lua cheia?

_Não sei, mas você vai saber daqui a pouco.

O soldado ergueu a cabeça e encarou o último vestígio do dia que restava em meio a escuridão.

_ Para que você quer saber?

Ethan segurou sua lança com força, olhou para os lados, se aproximou do companheiro e sussurrou.

_ Eu ouvi que coisas estranhas acontecem na lua cheia.

O soldado encarou o colega com um olhar duvidoso.

_ Ora sem essa, isso é história, já fiz patrulha com você em noite de lua cheia antes.Um guarda que se aproximava ouviu a conversa dos dois e decidiu participar.

_ Do que vocês estão falando?

_ Nada, só o Ethan com medo de fantasmas.

_ Não é isso, eu só queria saber se era noite de lua cheia.

_ Não me diga que você andou escutando as histórias do Tove? Aquele cara não fala nada que preste.

_ Que histórias são essas ?

_ Aquele cara inventou que o mago faz experiências macabras todas as noites de lua cheia, he! he! he vê se pode uma coisa dessas.

Ao ouvir a palavra mago o coração de Ethan quase saltou, ele olhou para Simon com os olhos arregalados e fez sinal para fazer silêncio, até mesmo Berto teve de se mover um pouco ao ouvir isso.

_Shhhh.

_ O que foi ? Está com medo de quê? o mago nem está aqui.

_ Quem sabe se ele pois uma magia sobre a casa, se ele pode ouvir tudo o que falam dele?

_Ah não! você acha que o lorde mago se daria o trabalho de colocar uma magia para vigiar soldados humildes?

_ Bem mesmo assim é melhor parar de falar do senhor mago , ao invés disso por que você não fala o que veio fazer aqui ?

Os olhos de Berto foram de Simón para um garoto franzino parado atrás dele.Certo, esse é o novato da cidade de Dubard, eu trouxe ele para conhecer a mansão, vamos se aprese.

Em um uniforme dois números maior, um garoto magro com olhos escuros e cabelos castanhos deu um passo à frente, juntou as pernas e bateu continência.

_Jasper Nowak de Dubard ao seu dispor.

Ethan não se segurou e começou a rir como um louco.

_ Beleza garoto, não ligue, ele tem problemas.

Simon deu alguns passos para frente, tocou no ombro de Jasper e sorriu, depois se virou para sair.

_ Fique de guarda com eles, talvez você aprenda alguma coisa.Vocês cuidem do garoto.

Em um pulo, Berto entregou sua lança._ Segura, não se preocupe, o trabalho é fácil, você só precisa garantir que ninguém sem autorização passe, ok?

Ethan amaldiçoou-se por sua lerdeza.

_Certo!

Jasper segurou aquela lança como se fosse um tesouro, bateu continência e assumiu o posto de guarda.

Caminhando em um corredor iluminado pela luz amarelada da chama, o capitão da guarda repensar algumas de suas escolhas, afinal o caminho que ele escolheu seguir foi o certo? Ele não sabe mas o brilho do fogo o lembrou de alguém... alguém de seu passado. Seus passos pararam ao ouvir alguém se aproximar.

_Tap tap tap.

_ Capitão !

Saudou o soldado que passava.

_ Wesley, o lorde mago já voltou?

_ Ainda não senhor.

_ E o garoto que ele mandou vir ?

_ O senhor quê dizer o ladrãozinho? Nenhum sinal dele.

Wesley ficou desgostoso ao falar do convidado do mago, a imagem de um garoto nobre e arrogante veio à sua mente e tudo o que pôde pensar foi que o mundo é injusto.William coçou a barba, perdido em pensamentos, ele respirou fundo e falou.Vá e veja se o garoto já chegou.

_ Sim senhor.

Wesley estava prestes a sair quando o capitão o chamou.

_ Espere, deixe para lá, eu mesmo irei verificar.

Sem esperar qualquer resposta, William saiu andando, o som de suas botas ecoou no corredor vazio e um soldado confuso ficou parado no lugar.

Por que o capitão está tão interessado no ladrãozinho? Do que importa, isso não é da minha conta.

_ Arf... Espera um pouco, Arf ... vamos descansar.. um pouco, minhas pernas não aguentam mais.

Gants se virou e viu um Aran em frangaços, encharcado de suor, com um rosto branco como papel parecendo prestes a desmaiar.

_ Arf! Arf ...Arf.

De novo? Aran se não fosse por sua lerdeza, a gente já teria chegado faz tempo, você não tem medo de deixar o mago esperando?

Calma, eu não tenho culpa se a casa do visconde Lewis é tão longe.

Sim, nessa sua velocidade são dois dias de viagem.

Aran caiu com a bunda no chão, Gants balançou a cabeça com a cena.

_Que físico do atleta em.

_ Água ...

Um cantil voou na sua direção, ele tentou pegar, mas se atrapalhou e o pool bateu com força em sua testa.

_ Ha! ha! ha! Você é uma piada amigo.

_ Glub, glub!

Em um piscar de olhos o cantil estava quase esvaziado, com o restante da água ele lavou o rosto e jovem.

_Ok vamos.

_Você deveria se exercitar mais e se um dia você precisar correr por sua vida?

_Então eu morro.

Com isso os dois voltaram ao seu percurso normalmente.

Enquanto Berto e Ethan conversavam despreocupadamente, Jasper mantinha a guarda, sempre atento ao seu entorno. Seus olhos castanhos focavam em algo, eram duas pessoas, ambas vestindo roupas simples, provavelmente plebeus, solução ele.Alto lá!

Ele gritou lança sua lança para os forasteiros.

_ Quem são vocês e o que querem na casa do lorde?

O que eles querem a essa hora? Pensou Jasper ainda com sua lança apontada.Sou Aran Leifr, vim por ordens do grande mago.Mago? Um garoto ranhoso como esse? Até parece.

_ Me mostre uma prova de que é enviado do lorde mago.

Aran sentir uma grande dor de cabeça, mas neste momento uma voz grave surgiu.Deixe-o passar, ele é convidado do lorde mago.

_ Capitão!

Jasper sadou, enquanto Ethan e Berto saltaram assustados. O capitão andou até ficar de frente a Aran.

_ Então foi você o garoto que teve a audácia de tentar roubar um mago?Eu não sabia que ele era um mago. Acha que sou louco a tal ponto?Bem não importa mais, Jasper e Berto, vocês dois levem ele para a governanta.

_Sim senhor.

_ Até mais Aran.

_Tchau Gants.

Iluminados pela luz do luar, seguiram os três para dentro da mansão. Um calafrio percorreu Ethan enquanto o capitão o encarava.

_Senhor o Aran vai ficar bem ?

_ Ohh vai, talvez até melhor do que nós.O capitão William bagunçou o seu cabelo, Gants não entendia o significado por trás de suas palavras.

0